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Batidas

Um coração humano bate em média entre 60 a 70 vezes por minuto. Para o ser humano que vive em média 80 anos chegamos a quase 3 mil milhões. Ou se preferirem 3 000 000 000 de batidas. São muitos zeros. Acrescentemos a esta equação que durante muito tempo suspeitou-se que os corações tinham um número limitado de batidas. Neil Armstrong, o primeiro humano a pisar a Lua, foi metido nesta discussão ao ser-lhe atribuída uma frase (entretanto desmentida) onde dizia que “Acredito que cada ser humano tem um número finito de batidas. Por esta razão não pretendo desperdiçá-las a correr ou a fazer exercícios”. Para todos e todas que já pensavam em cortar nas horas de exercício para não gastar as vossas batidas, podem esquecer este argumento pois há muito que foi desacreditado.

O coração é na verdade um órgão fascinante. É dos poucos órgãos que podemos sentir com as nossas mãos. Dizemos que bate, mas também que dói, que aperta, que aguenta, que se remenda, que pode ser embalado, que acelera, que se entrega, que late, que se maltrata, que se abre e eventualmente que se parte. Acontece-lhe de quase tudo e tem até um dia onde é rei e senhor das montras e aparece em tudo o que é lugar. No entanto a sua função básica é o garante da vida. Ao bater, alimenta as células e oxigena o corpo. O dos humanos, mas não só.  

Recentemente lembrei-me de um coração do qual poucos esperavam muita coisa. Trata-se de Laika, a cadela condenada a ser o primeiro ser vivo no Espaço. Laika foi escolhida (com uma substituta), entre os cães de rua de Moscovo e foi-lhe dado um bilhete de ida na Sputnik 2. Durante vários meses foi preparada para a viagem que lhe levaria à órbita terrestre, mas poucos acreditavam que sobreviveria a fase inicial do voo. Com a instalação de diversos sensores no seu corpo, Laika foi colocada no espaço exímio da cápsula que lhe foi reservado e que lhe serviria de transporte. Ali ficou 3 dias para se habituar. 

No dia da partida os cuidadores despediram-se dela. Durante a fase da descolagem, o som dos reatores e a pressão assustaram-na de tal forma que o seu ritmo cardíaco triplicou. Contra todas as expetativas Laika sobreviveu. Uma vez em órbita, estima-se que Laika tenha sobrevivido durante 103 minutos e completado entre 5 a 6 das 2570 órbitas que a Sputnik 2 completou nos seus 5 meses de missão. Após a órbita número 4 a temperatura no interior da cápsula atingiu os 32 graus e a vida tornou-se praticamente insustentável.

O coração da Laika não utilizou todas as suas batidas durante a sua estadia na Sputnik 2, ainda assim conseguiu latir mais forte que os reatores de uma cápsula espacial.    

Por Dário Muhamudo

Nasceu em Moçambique e passados 7 meses foi convidado a sair. Chega a Portugal depois de 10 horas de avião, uma experiência que o marcou e desde então vive com os olhos virados para o céu. No Seixal arriscou um pouco de teatro como ator e dramaturgo. 18 anos depois chega à Guarda, onde inicia a sua formação académica. Descobre a essência e a paixão pelas coisas originais e recomeça a escrever como jornalista. Sai de Portugal para continuar os estudos em Inglaterra e combina os seus interesses maiores: comunicação e economia. A vida trocou-lhe as voltas e continuou fora de Portugal. Gosta de viajar (especialmente para Itália), de vulcões, da imensidão do oceano e da Eurovisão. Cumpriu um dos seus maiores sonhos quando tirou o brevet de piloto. É Economista dos Media, tenta ser diplomata e acredita no poder de uma Serenata. Atualmente pode ser encontrado em Genebra, a cidade a que chama de casa.

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