Vou tratar-te como um ensaio, porque neste momento não te sei tratar de outra forma.
Queria tratar-te pelo nome, mas não me é conveniente, e por isso, apenas por isso vou sempre dirigir-me a ti (quando assim for necessário) na segunda pessoa.
Se tivesse uma lista, um livro com listas de pessoas onde te encaixarias tu? Possivelmente na lista dos cobardes, ou na dos mentirosos, quem sabe ainda a dos instáveis teria o teu nome. Vou decidir colocar-te na dos mentirosos. Por enquanto é lá que te vou encontrar, se assim o quiser.
Afinal, que custa assumir a tua decisão? A tua posição? A tua vontade? Hoje, surgiu-me, inclusive uma palavra que não costumo proferir, enquanto conduzia, pensava em ti e no quanto literalmente abusaste de mim.
Esquece, não falo das vezes em que permiti, deliberadamente, que passasses as linhas traçadas pelas posições devidas. Falo das outras em que me querias convencer da tua posição como certa. E sabes? Eu não mordo, a não ser que me seja pedido e que eu queira, portanto, poderias ter sido leal e falar o que dizia o teu coração. Mesmo que eu não gostasse de ouvir. Afinal, foi tudo o que te pedi: que fosses leal. Falasses a verdade. O que te ia no coração. Mesmo que eu não gostasse de ouvir. Isso servia.
Pergunto-me, agora, que já virei a página. Serias diferente, mais leal, verdadeiro, se as linhas estivessem bem marcadas? Possivelmente, fui eu quem te permitiu abusares de mim.
Vamos por momentos reescrever os factos e retirar-te da lista dos mentirosos. Passar-te para a lista dos verdadeiros. E assim ouço:
“Amava fazer parte da tua vida. Mas por enquanto tenho outro caminho a traçar. Que o futuro nos cruze novamente, é o que desejo.”
Ouço, agora, o que gostaria de ter ouvido. E dir-te-ia: no meu livro estás na lista dos que sempre terão a porta aberta.
Entretanto a porta fechou, terás de perceber se está trancada, encostada, e como poderás voltar a abrir. Se assim o desejares. Porém aviso: há chave mestra e não sei onde anda ela.
Ensaio meu sobre ti.