Estou-me nas tintas!
Juro, nunca me soube tão bem materializar palavras como me está a saber com estas.
Sabe tão bem que vou repetir: estou-me nas tintas.
Nunca percebi bem porque é que estar nas tintas para algo é: não querer saber de todo sobre esse algo. Mas o facto é que é exatamente isso que quer dizer, assim sendo: estou-me nas tintas com muito orgulho.
Estou-me nas tintas para o comportamento adequado, para o que pensam de mim, para o que devo ou não fazer.
Descobri que a vida é curta, talvez porque olhei para a minha em perspetiva e falta-me tanto! Se morresse amanhã não teria cumprido o meu propósito e aproveitado este corpo para sentir o tanto que desejo.
Se morresse amanhã, não teria estado o tempo que deveria com a minha família, teria ficado tanto por viver.
Deixei a praia para amanhã, jantar fora para amanhã, a garrafa de champanhe para amanhã também. E descobri que se morresse amanhã poderia não conseguir executar toda a lista de coisas que deixei para amanhã.
Que importa então o que pensam os outros de mim? Ou se me julgam interesseira, eles mesmos se interessaram por mim porque lhes fui útil e quando deixei de ser (por momentos que fosse) se desinteressaram.
Quero saber do respeito pelo outro, está-me no sangue. Quero também saber do respeito por mim que nunca circulou neste corpo. Por tudo isto e tanto mais: estou-me nas tintas!
Quero a experiência sensorial da vida: a própria vida!