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Sobre Aceitar (ou não)

Uma coisa é certa, só escrevemos ficção.

Nem a nossa história sabemos bem.

Cláudia Lucas Chéu

Chamo-me Maria, como aliás a maior parte das mulheres em Portugal. 

E dito isto, passo para a coisas que ninguém sabe. 

Quero falar sobre mim, mas não quero que saibam nada de mim. Parece uma loucura, é possível que seja que seja, de facto já nem mesmo estou aqui para julgar se é loucura ou não. Para mim há uma moda nova na minha vida: aceitar. 

Tudo começou quando nasci. 

Oiço poemas sobre mulheres que rimam, e gosto pouco. Tudo isto porque me faz lembrar dos poemas que eu fazia e rimavam. Ninguém nunca aplaudiu, pelo contrário: “Cala-te menina, tu não sabes o que dizes nem sabes o que fazes.”.

Mas eu não aceitei, abri a boca e continuei a escrever poemas que rimavam, sendo que às vezes colocava a variável de poemas sem rima. Não sei porquê, mas aconteceu. 

Entretanto, percebi que a música estava no corpo, e como a palavra sempre teve um encanto para mim eu fazia palavras encaixarem-nas nas músicas de outros. Mas ninguém achou piada, sendo que mais tarde vi tantos a fazer o mesmo e andaram aí nos palcos da vida. Pior, em adulta vi quem encaixasse muito mal as palavras na melodia e era aplaudido, reconhecido e a conta bancária ficava recheada por fazer, mal, aquilo que eu sempre fiz bem e que me pediram para calar. 

E eu?! Não aceitei.

Falei, sempre achei que tinha uma voz e que um , sim, isso mesmo, um dia iria ser ouvida e faria sentido para alguém. 

Mas deixei de cantar letras criadas por mim em músicas criadas por outros em alto e bom, possivelmente para não ferir o ouvido de alguém. 

Eu sentia que valia a pena continuar. 

E por isso, nunca calei. 

E fui por aí a escrever tentando acertar, a cantar sem ninguém ouvir e com isto arranjei uma missão: mostrar o quão importante era ser-se autêntico! 

Expliquei que autenticidade te leva ao sucesso, trouxe a importância de ter uma mensagem pessoa, uma marca, uma vontade, um desejo, um caminho e uma direção. 

Pus-me ao caminho no meu caminho e ouvi vezes sem conta que era demasiado bom para ser falado. 

Escutei. 

E pela primeira vez: calei-me de vez. 

Aceitei.