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“Somos pedaços de pessoas recortados e colados ao acaso”, alguém me disse

Volto a ouvir o barulho desta cidade que se torna mais suportável aqui de cima. Da varanda, digo. O telefona toca e é um amigo, sempre um amigo. O peso da vida recai-se sobre mim como um daqueles cobertores da casa da avó que mal conseguíamos agarrar de tão pesados. Mas da mesma maneira que criavam peso, reconfortavam. Faziam-nos acreditar que tudo estava bem e só precisávamos de uma boa noite de sono.
E era verdade.
Com o peso da vida é parecido; cai-nos em cima e uma boa noite de sono ajuda. Ou uma boa música, um bom vinho, uma boa companhia, um incenso, sei lá. É só que às vezes as boas noites de sono são escassas. Nem sempre por maus motivos, atenção; pode ser apenas por me perder a ouvir o barulho desta cidade aqui de cima.

Com o tempo vai-se aprendendo o que é isto de andarmos por aqui com as cabeças para baixo e cada um no seu mundo. Com o tempo vai-se compreendendo que o teu mundo é o meu mundo e por isso cuido dele. Com o tempo vamos sentindo o toque, e alguns serão corajosos o suficiente para deixar que se entranhe na pele. E aqueles com mais receio, com o tempo aprenderão.

“Somos pedaços de pessoas recortados e colados ao acaso”, alguém me disse

19/03/2021

Por Mafalda Pereira

Mafalda Margarida Cardoso Pereira, coloca-os a todos porque a mãe ficaria triste se fosse apenas Mafalda Pereira. Inconformada desde 30 de setembro de 1998. Acha sempre que é tarde demais e que a vida só acontece dentro da sua cabeça, mas quando dá por si está noutro qualquer ponto do mapa - porque não consegue estar quieta num sítio, mesmo que lhe falte o sentimento de “casa” - a fazer o que mais gosta. Acha sempre que não é boa em nada, mas vai tentando; uma atriz aspirante a atriz-encenadora-dramaturga-pintora-pianista-ativista-fotógrafa e tantas outras coisas que quer muito fazer/ser. Se calhar é por isso que parece sempre tarde demais. No fundo, só quer tocar a vida das pessoas através de si e da sua arte. A sua bio é tão abstracta quanto ela.

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