Vivo num país que se vê perfeito no papel, mas que a realidade mostra partes feias.
Vivo num país onde tudo acontece e pouco muda.
Vivo num país que deixa partir os seus filhos e filhas para ganhar mundo e prefere mantê-los lá fora.
Vivo num país que acredita piamente que “Santos da casa não fazem milagres”, ainda que o milagre seja regressar e ficar.
Vivo num país liderado por pessoas que não veem para além da sua ambição, e que almejam um futuro construído sobre as costas dos mais frágeis.
Vivo num país onde a dor é surda e a culpa morre, ainda e sempre, solteira.
Vivo num país onde se venera o que vem do Leste, ainda que tudo o que aconteceu a Este seja passado.
Vivo num país que espera ter resultados diferentes, mas continua a fazer os mesmos erros.
Vivo num país onde ter esperança é difícil e pensar o amanhã é um luxo.
Vivo num país onde se espera pelo futuro e não se corre para desenhá-lo.
Vivo num país onde não se vive, apenas se sobrevive.
No entanto,
Vivo numa cidade que me dá o mundo como vizinho,
que te recebe de braços abertos, mas que não te abraça.
que é pequena no tamanho, mas enorme no coração das pessoas.
onde cada bairro conta uma história e cada esquina te transporta a um sítio diferente.
Eu,
Vivo numa rua onde as pessoas dizem bom dia de janela a janela,
que se anima com os risos e nas brincadeiras das crianças do parque,
que respira vida a torto e a direito.
Vivo nesta rua comprida, plena de sombras onde a cada noite contamos estrelas cadentes.
Vivo aqui onde o futuro é possível, e onde a esperança renascida é confirmada a cada piscar de olhos da tua pequena criatura.